domingo, 22 de agosto de 2010

Educação infantil









1 A EDUCAÇÃO INFANTIL



No contexto da legislação brasileira, no Brasil, o atendimento a crianças de 0 a cinco anos em creches e pré-escolas constitui o direito assegurado pela Lei de diretrizes e bases (1996).

A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade e desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físicos, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.(MEC, Brasília, 1996, art.29).



Ocorre que, com a dificuldade de manter as redes públicas, os municípios foram encontrando formas mais baratas de atender a demanda, surgiram inúmeras creches conveniadas que vêm oferecendo o dobro de vagas e que não oferecem condições adequadas de funcionamento e a fiscalização ainda bastante debilitada. Entende-se então que a educação infantil encontra-se a mercê de um despreparo profissional, além da falta de recursos. As crianças providas de famílias de classe menos favorecidas ficam a mercê de improvisos em seus lares e na escola.

Acredita-se que uma criança pode ter menor variedade de estímulos quando pertencente a uma camada social menos favorecida, no entanto, é bem possível que uma má nutrição possa ocasionar problemas em todo o desenvolvimento, mas no que diz respeito aos estímulos, observa-se que importa muito menos se a escola dispõe de brinquedos caros. Enquanto os profissionais que nela atuarem estiverem despreparados, é certo que vão agredir os fundamentos de qualquer proposta pedagógica. Uma escola ou uma creche localizada em uma região periférica, por exemplo, podem não dispor dos coloridos e atraentes brinquedos, mas com criatividade, com mestres verdadeiros e pesquisadores interessados, podem desenvolver estímulos que nada ficam a dever aos propiciados pelos brinquedos caros. Basta que estes profissionais tenham consciência de que eles têm o mais importante, o próprio corpo da criança e um cérebro que está com milhões de neurônios conectados.

Sobretudo, é importante que quando a criança mostre desejos de engatinhar, criem-se espaços diferenciados para que ela o faça. Que não se importe se aqui ou ali vai sujar um pouquinho mais, de uma maneira ou de outra o contato com germes e bactéria é inevitável. O profissional que tiver consciência disso estará dando um grande passo no sentido de prevenir futuras dificuldades de aprendizagens.

Ocorre que, muitas instituições de educação infantil acreditam que, por estarem na modernidade, com áreas de recreação coloridas, ainda faz da estética com que desenham a disposição de seus mobiliários o marco de sua qualidade. Creio que estes recursos não deixam de ser importantes, mas nunca é demais enfatizar que a vaidade se mostra bem mais pela forma com que são utilizados tais recursos e dentro de qual contexto pedagógico estão sendo promovidos.

Ocorre também que, na maioria dos casos, as instituições de ensino infantil preocupam-se com os cuidados que devemos ter com as crianças para que tenham um desenvolvimento saudável. No entanto, eu me pergunto se o desenvolvimento saudável requer simplesmente cuidado, ou se não são necessários estímulos para que esta criança se torne independente, autônoma e possa realizar atividades com menos dependência possível.

Grande parte das instituições de ensino infantil nasceu com objetivo de atender somente as crianças de baixa renda. O uso de creche e de programas pré-escolares como estratégia para combater a pobreza e resolver problemas ligados à sobrevivência das crianças, justificativa para a existência de atendimentos de baixo custo, com aplicações orçamentárias insuficientes, escassez de recursos materiais; precariedade nas instalações; formação insuficiente de seus profissionais e alta proporção de crianças por adulto.(REFERENCIAL CURRICULAR PARA EDUCAÇÂO INFANTIL, 1996, v. I p.17).





Nesta perspectiva segundo os parâmetros que permeiam as políticas publicas, o atendimento era entendido como um favor oferecido, uma concepção marcada por características assistencialistas.

Observa-se que, ainda nos dias atuais, essa concepção existe, mas nota-se também algumas mudanças e uma preocupação maior com esta etapa do ensino. Entende-se que as dificuldades apresentadas nas escolaridades futuras (ensino fundamental), têm chamado atenção de muitos pesquisadores para que tenham um olhar mais significativo, considerando que a educação infantil é sem dúvida um alicerce para toda escolaridade futura.

Outra vertente que considero imprescindível ser discutida é o fato de se acreditar erroneamente que a educação infantil é um preparo para a escola de verdade, como se fosse uma etapa que não tem razão de ser. E só mais tarde chegará a hora de aprender.

Engano lamentável, pois a educação infantil tem o seu objetivo, não se trata de encher cadernos de atividades de prontidão, mas seu objetivo vai muito além, a criança precisa ser estimulada a aprender pelo próprio corpo para que possa incorporar as habilidades no rol de aprendizagens que vai adquirir através de uma proposta pedagógica que considere o sujeito com um ser global.

Até a década de 1960, entendia-se o cérebro de uma criança como uma composição orgânica estática e imutável sobre a qual nada poderia ser feito no sentido de acelerar seu amadurecimento. Atualmente os cientistas da cognição o percebem como algo dinâmico que, devidamente alimentado por estímulos e experiências, responde e se transforma de maneira como jamais seria possível prever sem estes estímulos e sem estas experiências.(ANTUNES, 2004, p.22).







A citação de Antunes (2004) nos leva a pensar na importância das atividades psicomotoras como estímulo indispensável para o processamento de aprendizagens que nosso cérebro é capaz de produzir utilizando o próprio corpo, através do input que recebe dos sentidos.

Para Antunes (2004) iniciava-se uma estrada científica admirável que explicaria o que o bom senso já sabia.

“Dize-me em que ambiente cresce uma criança e direi como será sua aprendizagem”. Desmontava-se o mito de que a Educação Infantil importa a criança apenas brincar, posto que somente mais tarde é que é chegada a hora de aprender. (ANTUNES, 2004, p.28)”.



Segundo Antunes (2004), a ciência comprova que o período que vai da gestação até o sexto ano de vida é o mais importante na organização das bases para competência e habilidades que serão desenvolvidas ao longo da existência humana.

Muito debate tem sido realizado sobre a concepção da criança, que no passado era vista como um adulto em miniatura. É possível acreditar, numa mudança de conceitos, que terminem de uma vez por todas, com todos os mitos que permeiam as discussões sobre o ensino infantil, pois há quem ainda acredite efetivamente que, esta etapa da educação é de pequena importância e espera-se que estes sejam capazes de perceber a dimensão dos primeiros anos de aprendizagem.

Em síntese, que haja a preocupação com o desenvolvimento das habilidades motora e cognitiva das crianças e que não se paute o trabalho pedagógico em ações de improviso. Por esse motivo, uma boa instituição de educação infantil requer, além de profissionais preparados, uma proposta pedagógica que aponte concepções mais abrangentes, que inclua necessidades de afeto, interação, estimulação, segurança e brincadeiras que possibilitem a exploração e a descoberta. Em outras palavras educar também para o desenvolvimento e o conhecimento.

Pensar em uma educação voltada para a criança de zero a seis anos requer que o profissional esteja atento às descobertas das ciências sobre o desenvolvimento infantil.

Portanto algumas considerações são perceptíveis para qualquer pessoa. É certo que muitos acontecimentos cercam o nascimento de uma criança. São muitas as emoções, preparativos ansiedades, medos. Momentos únicos na vida dos pais e momento de começar a preparar o terreno para o crescimento e desenvolvimento do pequeno ser, as preocupações são grandes, e, entre elas, a primeira providência é o acompanhamento daquele que detém os conhecimentos providos pelas ciências, “o pediatra”. Os pais já procuram se apoiar na ciência para garantir o desenvolvimento saudável dos seus filhos.

Procuram a escola de educação infantil e esperam que além de cuidados, seus filhos estejam nas mãos de pessoas que estejam preparadas para interagirem no desenvolvimento das crianças propiciando estratégias de desenvolvimento.

Contudo, espera-se, também, que estes profissionais tenham conhecimentos científicos, estou me referindo aos que receberam na universidade.

É bem certo que, como já mencionado neste trabalho, grande parte dos profissionais que atuam na educação infantil, não tem formação especifica para o cargo e nossas crianças acabam confinadas a passar horas dos seus dias em verdadeiros “depósitos de crianças”.

Entende-se que uma boa escola de educação infantil deve abranger os aspectos mais importantes para uma ação pedagógica que proporcione verdadeiras aprendizagens para seus alunos.

Nenhuma atividade proposta, nenhum jogo desenvolvido para ensinar ou movimentos para recrear emergem como ação acidental, como “novidade da hora”, ou iniciativa isolada desta ou daquela educadora. Todas as ações previstas fazem sempre parte de um plano, compõem a estrutura de um projeto selecionado, planejado e treinado com toda a equipe, mas dinamicamente aberto à reconstrução.(ANTUNES, 2004, P.34).

A citação de Antunes é, para o momento, propícia para discutir a ação do psicopedagogo na instituição de educação infantil. A pergunta é: como sensibilizar os profissionais da educação infantil sobre a importância de se trabalhar a psicomotricidade nesta etapa? Eis que a proposta pedagógica pode ser um forte instrumento, um planejamento de todas as ações que deve ser elaborado com toda equipe. É necessário que o planejamento pedagógico seja acompanhado por todos envolvidos e, dinamicamente, aberto à reconstrução. Não deve, de maneira alguma, permanecer engavetado dentro das instituições.

A resposta a esta pergunta não termina aqui. O profissional psicopedagogo deve intervir na sensibilização do corpo escolar para que este internalize a importância da psicomotricidade, para isso deve proceder a seu trabalho com muita cautela para não cair em uma armadilha que segundo Fernández (1991) trata-se desta:

Há quem coloque que nas escolas dão-se muitos conhecimentos matemáticos, científicos e pouca expressão corporal e plástica, e tenta-se juntar a uma mesma modalidade de ensino novas matérias, caindo na mesma armadilha com diferentes aspectos, pois não se modifica o principal: o espaço da aprendizagem, o espaço educativo deve ser um espaço de confiança, de liberdade e de jogo. A armadilha que me refiro seria esta: se a ciência não pode ser erotizada, vamos diminuí-la, façamos ginástica pelo corpo, em vez de fazer entrar a matemática pelo corpo, faz-se em uma hora de matemática aborrecidíssima e na outra as crianças movem o corpo.(FERNÁNDEZ, 1991, p.60).


Entende-se que na instituição de educação infantil é importante privilegiar o trabalho com expressão corporal, mas que, entretanto, nunca se perca nos seus objetivos, conteúdos podem ser ensinados através de dinâmicas e jogos corporais. A ação pedagógica pode garantir aprendizagens sem separar a hora desta ou daquela, ou seja, a hora de movimentar-se e a hora do aprender.



 


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