quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O lugar do corpo na aprendizagem



Maria Sol, uma boa aluna de terceira série em uma escola municipal de Buenos Aires, contou-me um pesadelo que havia tido na noite anterior, mais ou menos assim: “Tive um sonho horrível”. Estávamos, meus companheiros e eu, na escola. Vinham uns maus e obrigavam-nos a tomar um líquido para diminuir. Um liquidozinho para diminuir-nos, para que entrássemos nas aulas, porque nossos corpos eram grandes para entrar nas aulas. Quando tomávamos, as cabeças não diminuíam, mas os corpos ficavam achatados como de papel... Como cadernos! Sabe quando os professores põem cadernos para corrigir, um encima do outro sobre a escrivaninha? Assim ficávamos.
Mas, claro, as cabeças de uns tapavam as dos outros. Era terrível, não se podia ver quem era quem. “Só se viam corpos cadernos achatados”.
Maria Sol sonhou este pesadelo dolorosamente real e eu me pergunto também sobre o corpo dos professores desses alunos cadernos. Não serão também “corpos instruções metodológicas?”.E me pergunto também pelo corpo do psicopedagogo, do psicólogo ou do médico. Não serão também um “corpo livro” anulado em sua ressonância e vitalidade? (FERNÁNDEZ, 1991, P. 63

Observa-se na citação de Fernández que as crianças sofrem amarradas ao corpo. Essa situação é como um pesadelo, mesmo com suas cabeças não diminuídas, se instauram sentimentos de angústia, de aprisionamento. Os profissionais envolvidos são apresentados por Fernández como “corpos instruções metodológicas”, corpo livro. Situação vivida, na maioria das instituições que apelam somente ao cérebro. Um terrorismo intelectual, precoce na vida das crianças. Faltam os corpos, do psicopedagogo, do psicólogo, do médico. Entende-se que, a falta de uma equipe multidisciplinar representa essa ausência de corpos em cena. Compreende-se, também, que a dificuldade que estes profissionais encontram para sensibilizar os profissionais nas instituições educativas quanto à importância do corpo na aprendizagem.

Em geral, a escola apela somente ao cérebro, as crianças com braços cruzados, atados a si mesmo. Essa era a proposta: Amarrar-se ao corpo para deixar apenas o cérebro em funcionamento, desconhecendo e expulsando o corpo e a ação da pedagogia.(FERNÁNDEZ, 1991, P.63).



Segundo Fernández (1991), o processo de apropriação do conhecimento se dá pela ação nos dois primeiros anos de idade e também pela representação, todo conhecimento tem um nível figurativo (Piaget apud Fernandez,1991),que se inscreve no corpo. Não é necessário após os dois anos de idade, ao pensar, fazer movimentos, pois a imagem cobre estes aspectos.
O corpo, além de biológico e orgânico, nos permite mostrar emoções e estados interiores. O stress tem uma consequência fisiológica no pensar harmonioso e qualquer movimento requer harmonia e equilíbrio.

O corpo atende às relações através das sensações de dor, fome, frio e calor. Estas sensações são armazenadas no sistema nervoso central através dos sentidos (tato, olfato, paladar, visão e audição). Nem todas as informações que chegam ao sistema nervoso, são armazenadas, caso contrário, ficaríamos loucos.

As informações chegam ao sistema nervoso através da medula. Pode-se dizer que os órgãos de sentido são o “input” sensorial, a entrada das informações no sistema nervoso central.

A partir daí se inicia um processamento para analisar, organizar, integrar e memorizar. Algumas reações como, o choro, o sorriso e o susto (algo inesperado) podem acontecer. Por exemplo, se eu sinto dor, choro.

O sistema nervoso central, responde através do output, estas são, as ações motoras, a linguagem, a emoção e o comportamento. As aquisições de novos conceitos modificam nosso comportamento e nossas ações. Após a aquisição de um conceito o sujeito passa a observar e ouvir para processar outras informações através da lembrança de conhecimentos já adquiridos (conhecimentos prévios), faz relações e associações que facilitam o processamento de novos conceitos ou novas aprendizagens.

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